Thurston Moore no Circo Voador

A noite começou com Kurt Ville acompanhado por sua  banda The Violators. Kurt, pouco conhecido do público por aqui, apresentava suas músicas a uma pequena, porém atenta, platéia. O clima do show variava entre momentos folk, em que o músico se apresentava somente com violão e voz, e momentos que remetiam ao autêntico grunge, quando a banda de cabeludos entrava e fazia você se sentir um pouco como se estivesse em um pequeno sarau de Seattle, circa 1992.

Quando Thruston Moore subiu ao palco do Circo Voador, na noite dessa sexta-feira, o público estava extasiado, quase desacreditando que aquele ícone, quase sagrado, estava ali, a poucos passos de distância. Acostumado a fazer, com o Sonic Youth, shows épicos no Brasil, incluindo o último show da banda, após o anúncio de sua separação no SWU do ano passado, dessa vez Moore veio sozinho, em um show muito mais pessoal, para um público pequeno no Circo Voador.

O set teve início com Moore no violão, tocando “Mina Loy” do último álbum “Demolished Thoughts” de 2011, produzido por Beck – o disco integra a lista da Mojo dos melhores de 2011. Moore parecia muito à vontade com o público carioca e, depois de assoar o nariz ao fim da primeira música, todos já estavam “em casa”. Mesmo com o resfriado, ele pedia traduções de palavras em português para a primeira fileira da platéia e cada música era precedida por uma história, em que Moore tentava explicar ao público um pouco sobre suas composições. “Never Day”, do disco “Trees Outside the Academy”, por exemplo, foi comparada confusamente ao sentimento de se apaixonar por alguém enquanto se procura por discos em uma loja.

Em seguida, já substituindo o violão pela guitarra, Moore tocou “It’s Only Rock’n’Roll” com sua pegada inconfundível e, após uma sessão de psicodelia distorcida, foi à loucura junto com o público, que pode ajudá-lo um pouco na barulheira, tocando as cordas de sua guitarra. O resultado? Cordas arrebentadas e um solo de bateria enquanto o próprio Moore as trocava. Além disso, os papéis com as letras e o setlist voaram junto com o pedestal e foram parar na galera, para desespero dos outros músicos. Moore parecia feliz brincando de fazer música sozinho com o “humming” que tirava pisando em seus pedais, mas o baterista se encarregou de pedir pra galera que devolvessem os papéis e, para surpresa geral, após um pouco de insistência, a galera devolveu!

Após dois bis, incluindo a música de trabalho do novo disco, “Circulation”, Moore encerrou o show com “See-Through Playmate”, do primeiro disco “Psychic Hearts”, com e aquilo era provavelmente o mais próximo que os fãs chegaram de escutar a icônica sonoridade da extinta Sonic Youth.

O show foi tudo o que poderia se esperar de Thruston Moore, ainda com o privilégio de assistir a tudo de pertinho, sem aperto e sem a confusão de festivais. Ao final, a sensação que ficou foi a de uma certa intimidade com o ídolo, que se tornou um pouco mais “real” depois daquela noite, coisa que só um show com o clima do Circo Voador poderia proporcionar. Obrigado mais uma vez, Queremos.com.br!

Por: Lilia Lobato

 

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