A tempestade chamada Medina

Em 2010 eram apenas dois representantes brasileiros na elite do surf mundial: Mineirinho e Jadson André. Até que Raoni Monteiro e Heitor Alves, atletas que já haviam feito parte dos tops da ASP, batalharam através do extinto WQS e asseguraram seu retorno em 2011. Aos 45 do segundo tempo, Alejo Muniz garantiu sua vaga, totalizando cinco combatentes brasileiros na primeira metade da atual temporada.

Eis que a tão temida “etapa do corte” – quando os top 32 do World Ranking confirmam presença no restante do tour – é finalizada, em Nova Iorque, com a notícia de que no lugar de perdermos atletas, como muitos imaginavam, conseguimos emplacar força máxima verde e amarela para a segunda metade do WT 2011. As duas maiores promessas do surf brasileiro na atualidade, Gabriel Medina e Miguel Pupo, se juntaram aos conterrâneos, totalizando sete atletas tupiniquins na elite mundial.

Sendo assim, a próxima etapa em Trestles, Califórnia, entre os dias 18 e 24 de setembro, tornou-se extremamente interessante e indispensável para nós, brasileiros, que poderemos enfim ver nossos jovens e promissores talentos em ação entre os melhores do planeta.

Gabriel Medina, com seus apenas 17 anos e personalidade de um moleque que literalmente brinca de dar cambalhota nas ondas, conseguiu resultados espetaculares na divisão de acesso e classificou-se na impressionante 16a posição no World Ranking, não deixando dúvidas de que chegou para complicar de vez a vida dos que fazem parte da elite.

Surf no pé e postura de campeão o garoto de Maresias tem de sobra. E não digo isso apenas pelo coletivo, mesmo lá fora, Medina é apontado como um dos grandes nomes do circuito mundial para os próximos anos. Mas também por enxergar nele uma das características que, aliada ao seu dom natural sobre a prancha, irá alavancar suas performances mundo afora: a capacidade de lidar com a pressão durante uma bateria, seja ela contra um amigo íntimo, ou contra o decacampeão mundial Kelly Slater. Quando indagado sobre esse “peso” que já carrega sobre os ombros, Medina aparenta tranquilidade.

“Me sinto orgulhoso e graças a Deus está tudo dando certo na minha vida. Fico feliz que o pessoal esteja reconhecendo o meu trabalho. No WT é outra cabeça, mas eu vou sem pressão, tranquilo, como eu vim fazendo nesses últimos campeonatos. O resultado vai ser consequência”

Sobre uma posível bateria contra KS, o moleque com fogo nas ventas é simples e direto na resposta, mantendo a tranquilidade e ingenuidade apropriada aos seus 17 anos.

“Um sonho! Quero muito competir uma bateria contra ele e pode ser em qualquer lugar.”

No avião, a caminho da Califórnia, além das mil e uma possibilidades que devem ter borbulhado em sua cabeça, o fenômeno Medina não deve sequer ter parado para avaliar o quanto a sua estreia em Trestles é aguardada pelo mundo do surf.

“Minha expectativa é a melhor possível, ainda mais estreando em Trestles… não vejo a hora de começar! Aquela é uma das melhores ondas do mundo, não só pra mim como pra muita gente, então espero mostrar o meu surf”, disse ele, como um bom menino que aguarda a brincadeira ter início para cair na farra.

Aliás, tudo isso parece realmente um grande divertimento para o prodígio talento nacional, exatamente como surfar deve ser. E quando esta primeira etapa passar, virão desafios ainda maiores, em ondas cascudas como G-Land, Teahupoo e Pipeline, bem diferentes das que ele está acostumado a brincar. Mas seria isso uma “pedra em sua prancha”?

“Não sei, nunca fui pra Teahupoo e nem G-land, mas já estive em Pipe. Mas estou tranquilo e vou tentar dar o melhor de mim para enfrentar o que tiver de enfrentar”, finaliza.

Todos aguardamos anciosamente o momento de ver a tempestade brazuca caindo em cima do World Tour. E como já dizia um amigo nosso… “Os gringos vão ter que nos engolir!”.

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