ASP corta o “corte do meio do ano”

Se não fosse pelo corte do meio do ano, na etapa de Nova Iorque, Gabriel Medina ainda estaria disputando os eventos Primes. Foto: Surfline/ASP

Se não fosse pelo corte do meio do ano, na etapa de Nova Iorque, Gabriel Medina ainda estaria disputando os eventos Primes. Foto: Surfline/ASP

A ASP divulgou em nota que a diretoria decidiu, por meio de votação, desativar o corte do meio do ano em 2012, citando incertezas no calendário de eventos como o principal motivo.

“Esta foi uma decisão extremamente desafiadora para nós. Nós acreditamos que o corte de 2011 trouxe talentos incríveis que provaram ser merecedores da posição junto aos melhores do mundo, com suas performances durante a segunda metade do ano. No entanto, a instabilidade do calendário da ASP (especialmente em 2012) dificulta muito a prática do conceito. Para onde agendaríamos o corte? Como nos certificaríamos de que as oportunidades de qualificação para cada surfista seriam igualmente justas e balanceadas? Como desde nossa fundação, somos um esporte governado por surfistas para surfistas, foi neste espírito que votamos pela desativação do corte em 2012. Nós acreditamos que esta decisão é a melhor para a próxima temporada e vamos continuar a discutir o futuro do conceito do corte dentro do esporte”.

– Dave Prodan, porta-voz internacional da ASP

A iniciativa para descontinuar o corte do meio do ano foi inicialmente programada e apoiada pelo grupo de surfistas liderado por seu representante no tour e 2012 Pipe Master, Kieren Perrow.

“O corte funcionou melhor do que poderíamos imaginar nesta temporada, mas olhando adiante, os surfistas acham que ele não terá, em longo prazo, os efeitos desejados para o esporte. Essa é a opinião da maioria dos surfistas, desde o topo da elite da ASP, aos qualificados dos eventos Prime e Star. Nós criamos um sistema em que os melhores do mundo estão contídos nos Top 34, mas o processo para chegar lá está se tornando desorganizado. Nós não queremos isto e a decisão de não ter mais o corte do meio do ano em 2012 é a melhor para o esporte”.

– Kieren Perow

John John Florence foi um dos beneficiados pelo corte do meio do ano e, como recompensa, mostrou uma performance memorável. Foto: ASP

John John Florence foi um dos beneficiados pelo corte do meio do ano e, como recompensa, mostrou uma performance memorável. Foto: ASP

A ASP vem sofrendo grande pressão no decorrer deste ano em relação ao World Ranking e o sistema de corte – ou rotação – do meio do ano. A etapa de Nova Iorque foi a escolhida para o corte e trouxe para a elite os brasileiros Gabriel Medina e Miguel Pupo, além do havaiano John John Florence, que substituiu por motivo de contusão outro qualificado de primeira viagem, o aussie Yadin Nicol. Aquela etapa ficou marcada ainda mais dramaticamente com a “desistência” de Bobby Martinez do Tour, insultando a ASP em entrevista ao vivo após sua bateria.

Outro fator que pôs em questão a autoridade da ASP ao tomar decisões em prol do esporte foi o escândalo do erro de cálculo que deu o título mundial a Kelly Slater antecipadamente e resultou na renúncia do CEO da ASP, Broadie Carr.

É certo que divergências vão sempre existir e, como a entidade representante do surf mundialmente, a ASP receberá críticas independentemente da qualidade de seu trabalho. Sucumbir a esta pressão pode acabar tirando o foco primário de suas intenções, a colocando em uma posição ainda mais frágil.

O corte de 2011 provou ser extremamente efetivo, já que, ao mesmo tempo que seis meses no Word Tour parece um tempo injustamente pequeno para um recém classificado se adaptar e conseguir se manter na elite, nós tivemos provas suficientes de que Medina, Pupo e John John estão prontos para isto e alcançaram esta meta com facilidade.

O que me leva a pergunta: não seria injusto nos privarmos de ter o Gabriel Medina na elite mundial durante a segunda metade da temporada de 2011, tendo em vista que ele claramente tem o potencial de vencer até mesmo o melhor surfista do mundo, e ganhar etapas no World Tour, como fez por duas vezes? Não só ele, como Pupo e John John, conseguiram provar ser de fato merecedor de suas posições na elite mundial, e qualquer “perda” consequente do método para os incluir neste grupo me parece “parte do jogo”. Afinal, as intenções do corte foram alcançadas; os novos talentos merecedores de estarem na elite foram qualificados de forma mais rápida, e houve uma maior rotação de nomes na elite, garantindo desta forma mais emoção para o público.

CJ Hobgood conseguiu resultados expressivos para voltar à elite em 2012 após ser cortado no meio do ano. Foto: ASP

CJ Hobgood conseguiu resultados expressivos para voltar à elite em 2012 após ser cortado no meio do ano. Foto: ASP

Ao mesmo tempo, quem está em uma posição confortável no topo da ASP vê o corte como uma ameaça, e sua oposição ao conceito do corte é compreensível. O sistema de World Ranking (o ranking unificado), de certa forma, obriga alguns surfistas da elite à competirem em eventos fora do World Tour, o corte impõe ainda mais esta urgência e os beneficiados são os fãs do surf de competição. Após o corte da etapa de Nova Iorque, C.J Hobgood venceu a etapa prime Billabong Azores Island Pro e conseguiu um resultado significativo como wildcard no Billabong Pipe Masters, chegando ao round 5 e garantindo sua volta à elite em 2012, assim como Adam Melling. Bobby Martinez, seria cortado de qualquer forma após uma série de demonstrações de desinteresse no World Tour, e Gabe Kling já havia caído três vezes e desta vez não conseguiu nenhum resultado expressivo para o fazer subir de volta à elite.

Diante deste quadro, me parece que o preço acaba saindo barato para que possamos ver novos talentos trazendo novas perspectivas ao World Tour, ao mesmo tempo que a parcela inferior do ranking da elite se esforça para permanecer lá, mantendo tudo interessante para nós, espectadores. Mas não acredito que esteja em posição para afirmar qual o melhor formato para o WT, apenas penso que um ano (no caso, uma ocorrência do corte do meio do ano) é pouco para basear uma decisão sobre o resultado gerado por ele e implicar mudanças. O que você acha?

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