Medina “surfa bonito” e leva a etapa da França

Após ser aclamado como o mais jovem surfista a se juntar à elite mundial, Gabriel Medina sobe ao lugar mais alto do pódio logo em sua segunda etapa pelo tour. São dados impressionantes que, se somados aos de sua trajetória antes do WT, nos levam a crer que estamos diante de um futuro campeão mundial.

Tenha em mente que esse “futuro”, nos dias de hoje, representa um intervalo muito curto de tempo. É bem capaz de vermos, já no ano que vem, o moleque sendo o mais jovem campeão de surf do mundo. Se considerarmos que há apenas dois anos, ainda com status de “promessa”, ele ganhava o King of The Groms, também lá na França, com uma soma total de 20 pontos na final, mais uma outra nota 10 nas quartas e algumas impressionantes notas na casa dos 9 pontos durante o campeonato. Todo mundo adora uma aposta e, à partir daí, Medina era oficialmente a bola da vez. Só que não por muito tempo. O garoto de Maresias dá passos largos e, repetindo pontuações e variações de aéreos impressionantes nas seguintes etapas WS, o status de promessa rapidamente deu lugar ao de campeão na elite.

Outras “apostas” que foram motivo de alarde no mundo do surf traçaram uma trajetória muito mais lenta até o ponto que se encontra Gabriel hoje: Jordy Smith, Dane Reynolds, Julian Wilson, Owen Wright, John John. Alguns, até agora, sequer conseguiram alcançar este ponto.

Sem querer colocar pressão no garoto, mas já colocando, Medina tem a ousadia que representa o Brasil da forma que mais nos orgulhamos. Como Ayrton Senna, quando se jogava de lado nas curvas dos circuitos da Formula 1, travando “pegas” contra Alan Prost, como se estivesse pilotando um kart. Ou Ronaldinho Gaúcho, em sua época dourada, quando arriscava jogadas inimagináveis e, caso falhassem, voltava com aquele sorriso de moleque no rosto.

Medina também “surfa bonito”. Quebra os paradigmas. Enquanto seus oponentes traçam planos para baterias e estratégias mirabolantes, o garoto simplesmente entra na água e surfa! A comparação que me vem em mente é com os clássicos ensinamentos da sinuca, que dizem que o melhor a se fazer é jogar na defensiva, pensando na próxima jogada, ao invés de sair tentando encaçapar qualquer bola que lhe apareça e possívelmente se colocando em situações complicadas. No entanto, se Gabriel Medina fosse jogador de sinuca, seria um daqueles boêmios que jogam em mesas empenadas de bar, tentando encaçapar uma bola atrás da outra, se arriscando em qualquer jogada. E, incompreensívelmente, acertando tudo.

Quartas de final – Contra Kelly Slater

Irônicamente, a “falta de estratégia” de Medina acabou desconcertando até mesmo o maior mestre das estratégias dentro d’água, Kelly Slater. Se fosse para dar continuidade às comparações esdruchulas, compararia Kelly Slater a um sábio jogador de xadrez. Porém, não irei desvirtuar desta vez. Você já viu aqui na Layback que a disputa contra Kelly em uma bateria era um sonho de Medina. O fato é que vimos hoje um Kelly Slater diferente do normal. Parecia tão concentrado na escolha de suas ondas e em como surfá-las, que, enquanto a “criança” – com menos da metade de sua idade – o rodeava, pegando tudo que era onda, Slater só boiava ali. E quando pegava uma onda, parecia tentar desesperadamente achar uma rampa para voar. Ver o “macaco velho” caindo numa cilada dessas é muito incomum.

Semi final – Contra Taylor Knox
O "Mortal" de Medina. Foto: ASP/Cestari

O "Mortal" de Medina. Foto: ASP/Cestari

Contra o surfista mais “experiente” do tour, seu “surf moleque” ficou ainda mais evidente. De cara, Medina conseguiu um 8.17, que trocou mais tarde por um 9.57 e somou a um 10. No meio disso tudo, ele tentou uma rotação completa virado de ponta cabeça – manobra chamada pelo próprio simplesmente de “mortal” – e um Superman. Foram sete ondas surfadas no total, contra quatro de Taylor Knox, que somaram 10.13. A situação levou o veterano Knox a “desistir” da bateria, em tom de brincadeira. Ele causou uma interferência clara em Medina apenas para voar em uma onda, sem o menor propósito. Foi quase uma homenagem do veterano, já que em entrevista, mais tarde, Taylor Knox o parabenizou e comentou a falta de sorte de disputar sua bateria logo contra “Medina Airlines”.

Final – Contra Julian Wilson

Na final, contra o australiano Julian Wilson, essa “molecagem” quase custou a vitória,  se não fosse pela ingenuidade de seu também novato adversário. Medina, sem a prioridade, dropou por trás de Julian em uma esquerda e cavou por fora do aussie, passando or ele e saindo da onda em seguida. Se Julian não “evitasse” o choque, uma interferência clara seria dada contra Medina. Como fez o havaiano Freddie P. contra Mick Fanning em Teahupoo, ele teria que ir de encontro a Medina para deixar a falta evidente para os juízes. Fora isso, Julian Wilson estava sentindo a pressão, o que resultou em algumas quedas e tentativas falhas de aéreos. Mesmo assim, o aussie soltou um bonito Sex Change que lhe rendeu um 8.17 e um forte aéreo reverse que valeu 7.60. Felizmente, o brasileiro não perdeu nem um pouco do gás na final e, contando com a sua habitual friesa, soltou mais alguns aéreos impressionantes e um grande Slob para finalizar, levando a bateria por 17 à 16.10. Com a vitória, Medina se junta a Ace Buchan como os únicos goofy footers a vencer a etapa da França pelo WT.

 

Medina Tweets

Resultado do Quiksilver Pro France 2011
1. Gabriel Medina (Bra)

2. Julian Wilson (Aus)
3. Taylor Knox (EUA)
3. Jordy Smith (Afr)
5. Alejo Muniz (Bra)
5. Kelly Slater (EUA)
5. Taj Burrow (Aus)
5. Michel Bourez (Tah)
9. Miguel Pupo (Bra)
13. Jadson André (Bra)
25. Raoni Monteiro (Bra)
25. Adriano de Souza (Bra)
Ranking do World Tour 2011
1. Kelly Slater (EUA) 50150 pts
2. Owen Wright (AUS) 43900 pts
3. Joel Parkinson (AUS) 35900 pts
4. Taj Burrow (AUS) 34450 pts
5. Jordy Smith (ZAF) 34000 pts
6. Adriano De Souza (BRA) 32450 pts
7. Josh Kerr (AUS) 31300 pts
8. Mick Fanning (AUS) 29950 pts
9. Julian Wilson (AUS) 29400 pts
10. Jeremy Flores (FRA) 27700 pts
11. Michel Bourez (PYF) 27450 pts
12. Alejo Muniz (BRA) 25350 pts
13. Adrian Buchan (AUS) 24250 pts
14. Damien Hobgood (USA) 22950 pts
15. Jadson Andre (BRA) 20900 pts
16. Heitor Alves (BRA) 19200 pts
17. Tiago Pires (PRT) 18500 pts
18. Bede Durbidge (AUS) 18250 pts
19. Matt Wilkinson (AUS) 17150 pts
19. Brett Simpson (USA) 17150 pts
21. Taylor Knox (USA) 13750 pts
21. Kai Otton (AUS) 13750 pts
23. Fredrick Patacchia (HAW) 13500 pts
24. Chris Davidson (AUS) 13450 pts
24. Raoni Monteiro (BRA) 13450 pts
26. Adam Melling (AUS) 12500 pts
27. Daniel Ross (AUS) 12250 pts
28. Gabriel Medina (BRA) 11750 pts
29. Kieren Perrow (AUS) 11500 pts
30. Dusty Payne (HAW) 11200 pts
31. Travis Logie (ZAF) 11000 pts
32. C.J. Hobgood (USA) 10250 pts
33. Patrick Gudauskas (USA) 9000 pts
34. Bobby Martinez (USA) 7450 pts
35. Cory Lopez (USA) 6750 pts
36. Dane Reynolds (USA) 4750 pts
37. Gabe Kling (USA) 4250 pts
38. Miguel Pupo (BRA) 2250 pts
38. John John Florence (HAW) 2250 pts
40. Tom Whitaker (AUS) 1750 pts

 

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