PERFIL DO PICO: Canto do Recreio

Biel Garcia, local do Canto do Recreio, na zona oeste do Rio de Janeiro, apresentou para a Layback o seu quintal de casa e local de trabalho. Tudo regado a muita parcialidade. E você, concorda com Biel?


Tipo de onda

A onda no canto do Recreio é uma direita que nos seus dias épicos vira a versão brasileira de J-Bay.

O pico oferece tubos e uma extensa parede para você treinar todo tipo de manobra, desde cutbacks até aéreos invertidos rodando de cabeça pra baixo.

E para os que ‘’amam’’ falar que a onda do Recreio é cheia e balançada, infelizmente tenho que discordar, pois foi aqui que eu aprendi a dar aéreo, e fazer isso numa onda cheia é complicado. A não ser que eu seja um fenômeno de outro planeta, o que eu tenho certeza que não sou! (risos).

Isso sem falar da ondinha espetacular para os dois lados que quebra ali em frente ao hotel Atlântico Sul. Quando funciona para a esquerda, parece um pico gringo, com um canal bem no meio, ou seja, você escolhe onde vai surfar, nas direitas do Canto ou nas esquerdas do hotel. Ali, você entra de cabelo seco chega no outside sem tomar nenhuma onda na cabeça. Posso realmente dizer que sou privilegiado por morar aqui.

Melhores condições

O Canto é abençoado e quebra com ondulação de qualquer direção. Mas é quando o swell está de leste ou sudeste que você vai encontrar ali as maiores e melhores ondas do Rio de Janeiro. Em dias de grandes ondulações de sul, que geralmente vêm acompanhadas do vento sudoeste, o Canto é o único pico carioca que fica de terral, pela sua posição geográfica privilegiada. Porém, o pico também pode funcionar bem com ventos dos quadrantes norte e oeste.

Pontos positivos

O ponto positivo do Cantinho, é que quando o sudoeste começa a soprar, aqui é um dos únicos lugares surfáveis do Rio, se não o único (não querendo desmerecer o Posto 5 de Copa e nem a Praia do Diabo). Mas não dá pra comparar, né galera?! Sem falar da qualidade da onda, que é um grande ponto positivo.

Quanto a surfar com a galera local (a grande maioria não faz nada da vida, por isso estão sempre na praia), eu não sei se é um ponto positivo ou negativo, pois pelo fato de serem meus amigos, eles acham que podem me raberar e ficar arrastando a ancora na minha onda (risos).

Tem também o visual da pedra, que torna o Cantinho um dos picos mais fotogênicos do Rio de Janeiro. São tantos pontos positivos que se eu continuar falando aqui, vou escrever uma enciclopédia.

Pontos negativos

O ponto negativo é o crowd. Nos dias em que as ondas estão clássicas, podemos ver surfistas de todo o Rio de Janeiro querendo pegar uma daquelas direitas perfeitas.

Como o pico é um só, acaba ficando saturado de gente e infelizmente isso gera muita confusão, acidentes, brigas…

Nesses dias clássicos encontramos os mais ‘’lendários’’ surfistas. Divido o outside com figuras como Rato Alex, Johnny Bla, Gilson, Marinho, Felipe Lorão e vários outros, sem falar nos ‘’profissionais das antigas’’ que me inspiraram quando comecei a surfar. Nomes como: Claudio Emerick, Jerônimo Telles ( que hoje é meu aluno tanto no surf quanto no futvôlei), Alexandre Andrade, e os moleques que quebram, Guga Fernandes, Leandro Bastos, Thiago Barcellos, Felipe Bráz, Daniel Gonçalves… Então, pra vocês terem uma noção, uma session só com esses caras que mencionei já teria um crowd sinistro, agora adicione mais uns 50 locais e uns 60 ‘’haoles’’… Agora sim, seja bem vindo ao Canto do Recreio!

Crowd

O crowd é muito pesado, a não ser nos dias de mar bem grande, quando a maioria da galera prefere surfar na Farofinha (do outro lado da pedra, na Praia da Macumba). O Canto já revelou inúmeros talentos e continua sendo local de treinamento de muitos surfistas profissionais, além de amadores, bodyboarders, longboarders e iniciantes.

Dia épico

Mesmo com o problema do crowd, o Cantinho é com certeza um dos melhores picos, se não o melhor do Rio! Tudo bem que sou suspeito para falar, pois moro aqui desde criancinha e foi onde aprendi a surfar. Mas quem conhece, ou já pegou uma direita daquelas, sabe muito bem do que estou falando. Sem mencionar que é muito constante.

Lembro-me de uma sessão épica que fiz em 1998, com o Pedro Muller, quando ainda era bem moleque. Estava dando minhas primeiras manobras e aquele dia marcou a minha vida. Depois, quando já surfava profissionalmente, peguei um sábado de carnaval antológio! Na sexta-feira anterior, todo mundo foi pros bloquinhos de carnaval encher a cara, e quando acordei no sábado, simplesmente me deparei com ondas de um metro, sem vento e apenas duas pessoas na água. Meu amigo Dedé Saad e mais um cara que nunca tinha visto na vida.

As direitas estavam vindo atrás da famosa amendoeira, parecia até mentira. Assim que entrei, eu queria pegar qualquer onda, pois estava ansioso e com medo de que o crowd aumentasse. Então o que viesse eu pegava. Só que a hora foi passando e ninguém foi aparecendo… aí me dei conta de que o carnaval servia para alguma coisa (risos). Sem brincadeira, tiveram ondas que eu mandei sete manobras. Eu saía d’água para voltar pelo cantinho da pedra e ficava olhando as séries quebrando, perfeitas, sem ninguém.

Foi uma sessão de mais de quatro horas onde coloquei ‘’na conta’’ uns cinco tubos, seis aéreos, 875 rasgadas, 984 batidas, rabetadas, snaps, laybacks… (risos).

Mas falando sério, foi um mar que não vai sair da memória e só quem já pegou o cantinho clássico sabe do que estou falando. Foram altas ondas com água cristalina, quente e apenas cinco ou seis pessoas na água o dia inteiro.

Dia flat

Quem pensa que o Canto do Recreio só tem surf, está muito enganado. Os locais são muito ativos e podemos ver grande parte da galera na melhor rede de futevôlei do Rio, a única quadra que tem sombra, e isso nos dias de verão é como achar água no deserto.

Já tivemos campeonatos reunindo os melhores jogadores do Brasil, confirmando que o nosso famoso Cantinho não é lugar apenas de surf. Sem falar que lá é o único pico no Rio com um skatepark bem em frente à praia, e também uma praça onde a galera vara uns degraus de skate e que já apareceu até em filme de skate gringo (411vm volume 64).

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