Brasil Vs. O Mundo

No webcast da etapa Billabong Pro Tahiti, por exemplo, a grande questão parecia ser quem, e de que forma, estava usando deste artifício. Como se quatro dias de ondas perfeitas em Teahupoo com a elite do surf mundial pegando tubos de mais de 3 metros não gerasse nenhuma discussão mais pertinente.

A análise se aprofundou tanto que agora qualquer gesto após uma onda surfada configura um claim. Uma simples coçada no nariz é tomada como um esnobe “claim da coçada de nariz”. Se o surfista olha para trás por cima do ombro, está tirando onda com um “claim da olhada por cima do ombro”. E assim por diante. Mesmo se o surfista não faz NADA depois de sair de um tubão, ele é acusado de um “claim do no-claim“.

O curioso é que essa ideia vai contra um outro princípio muito aclamado pelos gringos, o tal do “stoke“. O surfista mais amarradão, o que demonstra mais paixão pelo que está fazendo (aquele espírito do “futebol-moleque”), é recompensado merecidamente com elogios por seu stoke. Ele representa praticamente a essência do sentimento que se tem ao surfar. Ter stoke é motivo de orgulho. Se em uma entrevista após uma final, ou mesmo uma bateria importante, o surfista não mencionar “I’m stoked“, pode ter certeza de que ele não saiu vencedor. Então, duas idéias muito contrárias acabam sendo divididas por uma interpretação muito subjetiva.

Fora tudo isso, se assumirmos como desnecessário o gesto de Mineirinho ao completar aquele polêmico floater que valeu 8.2, não seria (mais um) caso para os juízes analisarem? Afinal, se um simples gesto de comemoração consegue influenciar a nota de uma onda, o problema pode ser maior do que parece. Tentar penalizar ou reprimir um artifício tão instintivo, usado assumidamente por muitos surfistas (Joel Parkinson é um bom exemplo) seria mais uma contradição. Um evento de surf se enquadra tanto em um espetáculo, quanto em um evento esportivo. Desde os primórdios da modalidade, o surf como forma de expressão foi defendido com orgulho e ainda hoje é celebrado desta forma. Tentar enquadrá-lo nos padrões quadrados de um esporte olímpico, por exemplo, seria uma afronta a seus princípios.

Que a verdade seja dita: é difícil para os americanos e australianos aceitarem essa mudança, mas é chegada a vez dos brasileiros.

Adriano de Souza ter alcançado o topo do ranking mundial (mesmo que por um breve momento) serviu para simbolizar o que ninguém quer admitir que está acontecendo. A moda de surfar ondas perfeitas é passado e hoje o World Tour é realizado em sua maioria nas marolas, onde os brasileiros brilham. A nova geração é uma promessa para o título mundial. Nas ondas grandes, nossos big riders estão representando mais do que nunca, com o principal prêmio XXL vencido por Danilo Couto, os títulos mundiais de Carlos Burle e Rodrigo Resende, além das performances destemidas dos nossos freesurfers mundo a fora.

A geração Bustin’ Down The Door brazuca sofre hoje a mesma repressão que os australianos sofreram nos anos setenta, quando invadiram o Havaí e, com raios vermelhos pintados em suas pranchas, revolucionaram a forma de surfar e se comportar dentro d’água. Sim, eram outros tempos, hoje as pinturas nas pranchas são diferentes e a molecada não tem um estilo fluído, digno de lendas como as que surgiram 40 anos atrás. Por um lado isso pode parecer ruim, mas talvez teremos que revisitar essa questão em 2051.

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