REJECT? Pedro Fortes – Rio

Quando a série REJECT foi criada para a Layback, muitas pessoas me perguntaram “Reject? Porque esse nome?”, quase como se fosse degradante demais intitular assim fotos de surf desta qualidade.


Para quem não está familiarizado, este é um termo muito comum para nós que lidamos com a seleção de material e elaboração de pautas no dia-a-dia. Ele representa tudo que não passou na seleção do que é publicado; recebeu a cruel “guilhotinada”, seja à primeira vista ou de última hora, antes de um deadline.

A verdade é que as fotos presentes nesta série, independente de suas qualidades, são exatamente o que o nome diz: rejects. E é claro, existem motivos para isso: algum pequeno detalhe, talvez aquele sol que resolveu aparecer bem na hora do tubo, estourando o fundo da foto, ou a luz vindo de trás do surfista que o faz sair totalmente escuro. Às vezes a foto não retrata um ângulo familiar, daqueles que estamos acostumados a elogiar de cara e, às vezes, o mais fácil é simplesmente não arriscar e optar pelo convencional.

Sim, o trabalho de “carrasco” das fotos de surf muitas vezes não é fácil. Cada fotógrafo tem uma visão, um estilo próprio, e cabe ao editor, o dever de tentar se identificar com aquela perspectiva que ele estava tentando atingir no momento em que apertou o “botão de congelar momentos”.

Enxergar o que o fotógrafo enxerga no fruto de seu trabalho nem sempre é possível, e o caminho mais simples é o que leva àquela pastinha “rejkect”, escrito errado mesmo, na pressa, ou a própria pasta do material original entregue pelo fotógrafo, no momento pré-seleção, onde as fotos deixadas por último vão ficando e ficando e lá ficam por tempo indefinido.

Por outro lado, quando há a intenção de realmente explorar o ponto de vista próprio de um fotógrafo, os detalhes têm um papel primordial no processo. Aquele mesmo sol que escureceu o surfista, a luz que mudou na hora errada, o ângulo estranho… na pós-produção, são justamente realçados ao invés de disfarçados. É claro que a clássica foto de surf “na cara” do tubo, sem uma gota d’água na lente, ou aquela fechada no momento exato em que o surfista desenha um arco de água perfeito durante a rasgada, são do tipo que nunca sairão de moda e merecem devido valor. Mas ao mesmo tempo, o fotógrafo que experimenta com sua câmera e está sempre atrás do “algo mais”, dá margem para o inesperado, que, de certa forma, acaba assegurando a personalidade de suas fotos. A Layback preza pelo que é diferente, e esse tipo de material se encaixa perfeitamente com o estilo do site. Acho que não estou sozinho quando digo que ao conseguir entrar nesta “sintonia” com o material de um fotógrafo, o resultado fala por si só e vai muito além deste título de REJECT.

Portanto, é aí que está a “pegadinha” do título desta série. Guiado pelos relatos de Pedro Fortes, use o mesmo olhar diferenciado que ele usou para apreciar estas fotos de picos do Rio de Janeiro que estavam paradas no seu computador, e mude seu conceito de um material reject.


Confira mais de Pedro Fortes na matéria “REJECT: Tema Livre” e sem seu Blogbook.

Black BoxRejectSurf